segunda-feira, 19 de outubro de 2009

O PAI BURZUM


O Burzum foi um projeto solo de Varg Vikernes (ou Count Grishnackh), no qual ele tocava todos os instrumentos. Apenas no EP Aske de 1993 que Vikernes contou com a participação de Samoth - integrante da banda Emperor - no baixo. Em 1991 surgia a primeira demonstração do Burzum, e em 1992, um álbum auto-intitulado Burzum foi lançado pela gravadora Deathlike Silence de Euronymous (líder do Mayhem). O nome da banda, assim como o nome "Grishnackh", foram tirados do livro de aventura fantástica "O Senhor dos Anéis", de J.R.R. Tolkien. São nomes que se referem aos vilões da história.[carece de fontes?]
No início, o Burzum surgia como Black Metal, mas se dividia ideologicamente entre satanismo e paganismo. O Paganismo vinha relacionado diretamente às raízes culturais nórdicas em geral, como a mitologia e sua história. Porém, a distância causada por esse dualismo ideológico foi aumentando a cada álbum lançado, e a partir de seus últimos álbuns intitulados "Daudi Baldrs" (1997) e "Hlidskjalf" (1999) o Burzum deixava de fazer parte do Black Metal, tanto na temática abordada quanto musicalmente, pois substituía todos os antigos instrumentos por apenas um teclado e fazendo um estilo de música denominado Ambient - sendo o Dead Can Dance uma de suas inspirações para isto.
Ele não mais se interessava por Satanismo ou por outras "criações cristãs", e sim pelos deuses nórdicos e pela "redescoberta da verdadeira raça norueguesa e sua cultura". Assim, o criador do Burzum abandonava a temática satânica e se auto-afirmava ser um viking, defendendo idéias que engrandeciam a própria raça nórdica. Seu orgulho e adoração pela cultura nórdica eram tantos que foi inevitável sua aproximação com o nazismo.
Em 1993, Varg Vikernes mata a facadas Euronymous, seu colega e integrante da banda Mayhem devido a diferenças ideológicas. Em 1999, Varg Vikernes confirma o fim do seu projeto, e o Burzum acaba. No dia 22 de maio de 2009 ( Dez anos depois ter confirmado o fim do Burzum), Varg Vikernes deixa a prisão e começa a gravação de mais um álbum. Em uma recente entrevista ao jornal norueguês Dagbladet, ele diz que o novo disco será metal e os fãs podem esperar ouvir Burzum de verdade.


Sonoridade:


Por diversas vezes tem o seu estilo tido como "Depressive Black Metal" -Black Metal Depressivo- pelo fato de que a maioria de suas músicas levam a grande introspecção e são carregadas de niilismo. Pode-se dizer que Burzum não foi somente um dos pioneiros do Black Metal como também foi o pioneiro do Black Metal Depressivo. Varg também destaca-se pela composição de músicas ambientes, daí outro título dado a sua música, "Ambient Black Metal", que sugerem escuridão, isolamento, introspecção, por vezes medo, notando-se influências surrealistas em sua música, ao tentar comunicar-se com o íntimo de cada um, por extensão, com o subconsciente.
Tal variedade de classificações dadas a sua música é o reflexo da extrema complexidade a que alcançou. Vikernes também possui em suas músicas caráter minimalista que, de modo geral vai se acentuando no decorrer dos álbuns e atinge seu ponto alto nos dois últimos : "Dauði Baldrs" e "Hliðskjálf".


Filosofia:


Diferentemente dos outros grupos de Heavy Metal, ele propõe uma abordagem pós-moderna da música, com temas e até mesmo um intrumental diferenciado; despindo-se das amarras do belo convencional, propõe novas formas de expressão, que são plenamente entendidas quando analisa-se as verdadeiras razões do uso de uma sonoridade tão incovencional.
Para compreender Burzum e Varg Vikernes, se faz necessário o conhecimento das idéias do filósofo alemão Friedrich Nietzsche (notadamente as apresentadas nos livros "Genealogia da Moral" e "O Anticristo"). Varg Vikernes discute, de modo breve, porém objetivo, questões apontadas anteriormente pelo filósofo, como a descristianização, crítica a moral, crítica ao Racionalismo e até mesmo temas mais íntimos como o existencialismo. Ele, porém, mostra-se original ao adotar o nacionalismo como tema de suas músicas mesmo tendo como influência Nietzsche que demonstra clara aversão a esta idéia. O instrumental destaca-se por não mostrar-se claro, nem complexo em visão técnica, porém com grande densidade psicológica, complementando assim, as letras.
Canções sugeridas para análise:
Lost Wisdom (em português: conhecimento perdido): Crítica ao Cristianismo, expõe a questão levantada pela física quântica e por vários filósofos da existência de outros planos ou realidades coexistentes que são negados pela Igreja cristã e por diversas religiões.
Jesu' Tod (em português: a morte de Jesus): possivelmente uma apologia à frase "Deus está morto" ("Gott ist tod") do filósofo Nietzsche, possivelmente também uma apologia a outra frase do mesmo filósofo: "Deus está morto, mas o seu cadáver permanece insepulto". Varg descreve, no decorrer da música, o cadáver de Jesus, e, diferentemente do que se imagina, ele contamina a natureza pois é a anti-natureza. Nessa música torna-se clara a inversão de valores: o santo, o sacro, o sagrado e intocável é justamente o anti-natural.
"A figure laid on the ground/
So malicious, that the flowers around him withered/
A dark soul laid on the ground/
So cold, that all water changed into ice/
A shadow fell over the woods/
As the figure's soul withered towards it/
Because the figure's soul was a shadow/
A shadow of the forces of evil"
Dunkelheit (em português: escuridão): Crítica ao Racionalismo, proposta de convite ao sonho.
Beholding The Daughters Of The Firmament: é uma música com caráter existencialista, para maior exatidão no termo, intimista. Trata de perguntas comuns a todos os seres humanos, não esquecendo obviamente da crítica ao cristianismo que quase sempre acompanha suas músicas e, de uma forma ou de outra, encontra-se incrustado em sua música:
"Eu gostaria de de saber o por que a vida deve ser
Uma vida que dura eternamente"
Ou até mesmo:
"Todo inverno tem um frio diferente
Em todo inverno eu me sinto tão velho
Tão velho como a noite
Tão velho quanto o frio terrível"
A estrofe acima e a interpretação de toda as estrofes da música exprimem a idéia de que o mundo apresenta-se diferente não somente porque a natureza muda, mas porque mudamos internamente e, acompanhada dessa mudança interna vem a percepção, ou seja; a percepção muda quando nós mudamos. O inverno é uma metáfora para o fim de um ciclo, quando nos sentimos mais fracos, daí a metáfora: "em todo inverno eu me sinto tão velho".

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